Eu achava que nunca tinha deixado de fazer alguma coisa por conta de algo com o meu corpo. Na verdade eu nunca deixei mesmo. Não deixo de ir a algum compromisso por falta de roupa, por me achar acima do peso, porque o cabelo ou as unhas não estavam “em dia”. Fui orgulhosa em um casamento com vestido, cabelo e maquiagem feitos por mim há pouco tempo, por exemplo.

Mas depois de ler esse post do Modices, eu vi que deixava sim de fazer certas coisas por mim mesma: tenho vários tecidos e moldes parados, que comprei para fazer calças, macacões… enfim, partes de baixo. Tenho um molde de calça jeans me esperando desde o ano passado. Tenho uma calça bonita feita em 2016 e que usei pouquinho. Tenho um tecido bacana esperando que eu repita este mesmo molde, aliás. Tenho um tecido para fazer uma calça cigarrete que deixei a modelagem de lado. Tenho um molde e o tecido para um macacão de seda que também está na fila. E por aí vai.

Vez ou outra eu procurava quebrar este padrão e costurava peças que me deixavam muito satisfeita, como um macacão de moletom ou uma saia-calça. Acabava sendo um desafio que eu queria superar, só que eu continuava não avançando muito com os projetos para a parte de baixo do corpo.

Eu sempre procurei amar a mim mesma do jeito que sou. Porém, concluí que havia um ponto fraco. A gordura nos culotes que deixava ainda maior a medida dos meus quadris largos sempre me incomodou. E não teve dieta, exercício ou tratamento estético que tirasse.

Mesmo quando eu era magrinha eu tinha uma gordura na parte interna das coxas que insistia em roçar (e até assar por causa do atrito). Percebi que vivia nesse ciclo: uso calça/shorts e não tenho o atrito nas coxas ou uso vestido/saia com um shorts por baixo e contorno a questão. Mas no verão era pior pois estaria vestindo duas peças de roupa, sabe?

Quando comecei a costurar as minhas roupas, passei a entender no detalhe as minhas particularidades e passei a entender o que eu precisava fazer para que as roupas me servissem bem e, com elas, me sentir bonita e pronta para viver a minha vida.

Pois bem, ter mais consciência corporal, um dos maiores ganhos que tive após começar a costurar para mim mesma, também me ajudou a tomar uma decisão importante: fazer uma lipoaspiração.

Eu pensava que, para fazer uma cirurgia plástica, eu precisaria de quatro itens: coragem, dinheiro, um cirurgião de confiança e tempo para me recuperar. No começo deste ano eu finalmente consegui reunir tudo isso e fui em frente.

O médico me conquistou de vez quando propôs como faria a cirurgia e me disse que eu ficaria mais proporcional. Era isso mesmo que eu queria! Eu não queria uma mudança radical, eu só queria uma aparência mais proporcional e me livrar do desconforto que eu tinha.

É contraditório amar o próprio corpo e ainda assim “entrar na faca”? Talvez seja. Mas eu acabei assumindo a máxima do “meu corpo, minhas regras”. Se é isso que eu resolvi fazer para me amar ainda mais e não ter algum desconforto físico ou psicológico, vamos em frente.

Terei um corpo perfeito? Não. Quer dizer, depende do que se acha “corpo perfeito”. Para mim, já está ficando. Não tenho peito, meus braços continuam cheinhos e estes aspectos realmente não me incomodam. Não ficarei com medidas de manequim 38 e isso também não me importa. Serei a pessoa do manequim 42/44 com as formas mais lindas, pelo menos a meu ver. Aliás, é bom lembrar que não se pode considerar uma lipoaspiração como uma forma de emagrecimento e essa nunca foi a minha intenção.

À medida em que fui me recuperando da cirurgia (os primeiros dias foram realmente difíceis e o marido me ajudou demais), voltei para o meu ateliê com uma missão: resgatar os projetos que eu mesma negligenciei fazer por conta do meu corpo. Olhei todos os moldes e tecidos que sempre voltavam para o final da fila.

O tecido mais recente desta pilha está guardado há praticamente um ano…

Pois é, nestes dois meses depois da cirurgia, muitos sentimentos já passaram por aqui: superação, cansaço, dias em que me achei linda, dias em que me senti péssima… Por ainda estar em recuperação (estimada em 3 – 6 meses), quis retomar roupas do meu armário que estavam paradas, antes de reiniciar as costuras ou traçar novas modelagens. Algumas ficaram ótimas, outras não. E tudo bem. Estou olhando com mais carinho para todas as peças que fiz antes, simplesmente por não me cobrar mais de ter que costurar loucamente. Foi aí que vi o quanto podia ser gostoso presentear outras pessoas com roupas que eu costurei, como mostrei aqui, aqui e aqui.

O primeiro dia em que saí de casa de saia, ainda que com meia calça, eu estava explodindo de felicidade: eu estava de saia (uma mini saia, aliás), saindo a pé toda disposta como eu costumo fazer, sem restrições físicas. Enquanto eu me vestia, eu me olhava no espelho e pensava: “mas tá gostosa, viu?!” (Hehehehe! Um viva para a autoestima!)

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Voltando a vida normal.

Ainda assim, quero tanto costurar os projetos que vieram para a frente da fila que rezo todos os dias para lidar com essa ansiedade de esperar a hora certa. Por isso mesmo estou contando tudo isso por aqui, pois dividindo com quem sempre acompanha o blog sei que a jornada será mais leve. Veja só o que está acumulado há tempos aqui em casa (fora as peças que vivem na minha cabeça como uma pantalona bem linda de lã, rs):

(Clique em uma das fotos para ver maior!)

O Me Made May está chegando e eu quero participar novamente, focando em usar bem o que eu já tenho no armário, pois tenho muitas roupas que adoro. E, no momento certo, vou retomar a minha produção, iniciando com as peças acima, que tanto quero costurar!

Espero que passe rápido, rs, para eu ver o resultado final: feliz e com um armário renovado!