Faz tempo que escrevi esse texto. Em 2020 eu fiz um curso que colocava as mulheres como protagonistas das manualidades e eu me encantei (e me revoltei também, pois a história patriarcal fez com que as manualidades produzidas por mulheres perdessem o valor, algo que estamos retomando).

Em uma das aulas, fui escrevendo um rascunho deste manifesto, que ficou guardadinho aqui. E foi incrível revisitar, sigo acreditando em cada palavra. Enfim, este é o meu manifesto por uma vida cercada de manualidades e de mulheres que se apoiam!

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Manualidades, um saber feminino e ancestral

Retomar o fazer manual como algo feminino e ancestral e trazê-lo para o protagonismo da vida cotidiana, proporcionando autonomia para as mulheres e tirando proveito de todos os recursos da tecnologia para isso.

Conhecer o processo manual do começo ao fim, contrariando a fragmentação trazida pela industrialização e pela produção em massa e assim poder transmitir este conhecimento a outras mulheres, aproximando todas nós.

Trazer de volta o hábito dos círculos de mulheres que compartilham seus fazeres manuais, para produzirem juntas de novo. O resultado desta troca será de mais conhecimentos compartilhados, de vivências terapêuticas e, por que não, financeiro também.

Colocar em evidência nossas qualidades femininas intrínsecas de atenção aos detalhes, de ver a beleza nas coisas comuns, do conhecimento dos processos artísticos, do apreço pela arte. Voltar para as manualidades faz com que a gente coloque tudo isso em movimento de novo, ainda mais se abandonamos ao longo dos anos em que as mulheres buscaram o mercado corporativo ou mesmo abandonaram o fazer manual como algo prazeroso por ter sido imposto para que elas fossem “mulheres prendadas” e aprisionadas nos afazeres domésticos, há muito tempo desvalorizados.

As mulheres artistas trabalham coletivamente, sempre. Mesmo que precisem dividir a sua presença em seus múltiplos papéis.

Em tempos de distanciamento social, as manualidades acabaram sendo uma forma de produzir arte dentro de casa, com as próprias mãos, para proporcionar aconchego em tempos difíceis e criar uma conexão com outras mulheres artesãs. E agora, podemos estar reunidas também presencialmente de novo.

Mulheres não costumam jogar nada fora. Nem seus materiais, nem seus conhecimentos, nem sua ancestralidade feminina. É tempo de fazer manualidades por escolha própria, não por obrigação. É tempo de se conectar de novo com outras mulheres através do fazer manual. É tempo também de transformar as manualidades em instrumento de autonomia, seja pela roupa feita pelas próprias mãos do começo ao fim, o bordado subversivo que enfeita a casa, a almofada que acolhe na hora de ver uma série tomando uma taça de vinho.


Eu me apropriei deste conhecimento todo adquirido em um ambiente muito feminino ao longo de quase 11 anos para ensinar a costurar. Entendi que o meu trabalho é valorizado por outras mulheres e que ele pode reverberar em outras tantas mulheres.

O amor-próprio através do fazer manual é uma realidade, vai aparecendo ali a cada etapa realizada, a cada peça pronta. Por isso estou aqui compartilhando este manifesto, para aumentar este círculo.

Vamos juntas?

Feliz 2022!