Eu fiz esta blusa que é tema do post há um ano atrás. Estávamos ainda em quarentena muito restrita, eu estava dando apenas aulas on-line – na sala de casa – e o meu ateliê estava bagunçado há tempos. Quando eu reformei a cozinha (post aqui), eu separei este tecido de malha trazido de Paris em 2016 (nem preciso falar da saudade de viajar, né?!) e uma seda linda que trouxe de Londres em 2017 para voltar a costurar para mim.
Planejando a volta às costuras em junho de 2020
A “operação reset” do ateliê começou bem no dia em que usei esta blusa pela primeira vez, portanto, eu ainda a costurei na cozinha. Foi a última peça feita fora do ateliê e, vendo isso agora, fico muito feliz por este movimento de retomar esta parte da casa e torná-la definitivamente meu espaço de trabalho. O ano de 2020 foi difícil demais e o isolamento me fez tomar decisões importantes e fazer movimentos necessários que eu estava postergando há tempos.
A blusa de malha
Quando eu comprei esta malha numa feira craft em Paris, pensei em fazer um vestido fechado e quentinho com ela, já que a textura da malha lembra um tricô com tranças. Ao resgatar o tecido no ano passado, provavelmente influenciada pelas chamadas de vídeo que têm feito com que eu esteja mais arrumada da cintura pra cima (será que alguém não pensou assim em algum momento? rs), decidi fazer uma blusa.
Eu tenho um casaco de tricô bem larguinho, com mangas morcego, que me deu a ideia de fazer a blusa assim. Então, coloquei o casaco em cima do papel craft, copiei esta parte e bolei o restante ali na hora mesmo. Os moldes da blusa ficaram só com frente e costas, com as mangas embutidas. Eu gosto muito de decote canoa e foi o que eu fiz, rebaixando um pouco na parte da frente. A ideia era fazer mangas 3/4, mas elas ficaram mais curtas um pouco e tudo bem, não me incomodou. Como sobrou um tanto razoável de tecido, em algum momento pode ser que o tal vestido pensado em 2016 ainda possa virar realidade, rs.
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O molde pronto sobre o tecido na mesa da cozinha, e as garrafas de bebida fazendo peso, rs
Aqui um retalho da malha cortada, achei interessante ver como o efeito 3D da trança fofinha!
Eu costurei a peça toda na overloque e fiz os acabamentos com agulha dupla, na máquina de costura:
Frente
Mangas morcego e 3/4.
Costas
A blusa prontinha, com etiqueta, sempre uma alegria!
Vários dias com looks da blusa
Desde junho de 2020 tenho usado muito esta blusa, foi uma costura muito acertada! Aqui vão as fotos de quando a usei pela primeira vez, em casa, faxinando o ateliê (lembro que me rendeu uma bela crise de rinite, rs):
Eu, cabeluda e aparentemente sem frio, em junho de 2020!
Blusa: modelagem feita por mim, tecido de malha com textura de tranças de tricô da Les Tissus du Chien Vert (França). Post sobre a viagem aqui. Shorts: Levi’s
E eu segui usando muito, inclusive no último Me Made May. Gosto muito como a peça tem combinado fácil com as partes de baixo que tenho no meu armário!
julho/2020
abril/2021
Dia 06 – blusa de malha de 2020 e pantacourt de 2017
Dia 27 – repetindo a blusa de malha de 2020 e a calça de veludo de 2019
Voltar a costurar em 2020 me animou muito a voltar pro meu ateliê, deixá-lo arrumadinho para tudo de bom que veio depois! Já é uma peça cheia de história para contar!
Maio foi mais um destes meses loucos vivendo em pandemia. E eu ainda não acredito que estou escrevendo sobre mais um Me Made May estando na pandemia. Por aqui foi um mês intenso de cuidados e participar mais uma vez foi, de certa forma, uma forma de me cuidar também. Foi um empurrãozinho para não vestir pijama nos dias de trabalho em casa, de passar um batonzinho e até arrumar o cabelo.
Quando maio começou, quase que resolvo não participar. Tive uma recaída da depressão em abril, voltei a tomar antidepressivo e estava começando a me reerguer. Será que eu queria aparecer todo dia durante um mês? Por mais que eu entenda que o “desafio” não é sobre mim, mas sim sobre o que eu fui capaz de construir com as minhas próprias mãos ao longo do tempo, aparecer num momento como esse não é tarefa fácil.
Mas eu apareci sempre que deu. “Furei” alguns dias em que não vesti algo feito por mim ou que até estava usando algo, mas não estava bem para aparecer. Metade do mês foi difícil também porque Leia, minha pequena, está com problemas na coluna e chegou a parar de andar. Fiquei com o coração muito apertado e também num estado de alerta para cuidar dela que teve dia em que não pensei em outra coisa.
E, quando ela melhorou, eu percebi que estava exausta por uma série de fatores. Eu precisava demais descansar porém não tinha como parar totalmente de trabalhar e me dar férias. Resolvi então me dar um descanso de duas semanas, adiar alguns projetos e emendar o feriado de Corpus Christi no começo de junho. Voltei a andar de bicicleta, a costurar para mim por uma hora diária, a ler mesmo que só um pouco. Mantive uma parte da agenda de aulas mas consegui levá-las de um jeito leve.
Terminei o mês melhor, ufa! Tenho muitas ideias para colocar em prática e eu precisava demais tomar um fôlego antes de acelerar de novo.
Os looks de 2021
Aqui vão os looks deste ano. Teve repeteco de anos anteriores, teve combinações novas com peças que eu já tinha, teve a chegada de algumas novidades também. Se você quiser conferir lá no Insta, é só clicar aqui.
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Dia 01 – calça de veludo de 2019, com uma história doida pra contar, rs
Dia 03 – calça de pijama em algodão de 2015
Dia 04 – blusa de tricô de 2018
Dia 05 – macacão jeans de 2015
Dia 06 – blusa de malha de 2020 e pantacourt de 2017
Dia 07 – blusa de tricô de 2020
Dia 08 – jaqueta bomber de 2015
Dia 11 – calça de linho e viscose de 2014
Dia 12 – vestido de veludo de 2017 e vestido de lã que virou colete também em 2017
Dia 14 – blusa de tricô de 2016
Dia 15 – repetindo a calça de veludo de 2019
Dia 18 – blusa de tricô de 2020
Dia 19 – blusa de seda de 2014
dia 21 – repetindo a calça de linho e viscose de 2014
Dia 22 – blusa de tricô de 2017
Dia 25 – pantalona de malha de 2014 e a blusa de veludo recém terminada no manequim
Dia 26 – mula sem cabeça em tricô de 2018 e repetindo a pantacourt de malha de 2017
Dia 27 – repetindo a blusa de malha de 2020 e a calça de veludo de 2019
Dia 28 – blusa de seda que fiz em março passado
Dia 29 – vestido de algodão de 2015
Dia 31 – blusa de tricô de 2017 e estreando a calça de veludo (a versão melhorada da calça de 2019).
Uma live para falar sobre meu armário handmade
Terminado o mês de maio, resolvi fazer uma live para contar sobre construir um armário feito à mão ao longo dos anos, como ele está alinhado ao meu estilo pessoal e como isso tudo me faz tão bem.
Foi super gostoso responder as perguntas e interagir, acho que gravo melhor assim do que sozinha, rs.
O papo todo está no vídeo, mas como uma primeira dica para começar eu deixo: registre sempre os seus looks, faça uma pequena biblioteca do que te agrada e tudo tende a fluir!
Os looks de 2017 e 2018 ainda me representam?
Neste último final de semana montei um look com uma saia que tenho desde 2017 e a blusa de veludo que fiz mês passado. Vi que o look representava exatamente o que eu coloquei nas imagens de “gostaria de ser assim”que reuni em 2017. Aconteceu naturalmente e essa era exatamente a intenção!
Fica aqui a inspiração de 2017 x realidade de 2021: um look confortável, com brilhos, texturas, tênis, saia midi e algo feito por mim! Que alegria!
Expectativa (2017) x realidade (2021)
Fico feliz em ter participado mais uma vez do Me Made May, sempre rende novos looks para meu acervo e também proporciona sempre uma visão mais aprimorada do meu estilo pessoal!
Mais uma peça feita antes da quarentena para ser mostrada por aqui. Eu queria chegar em 2020 com um vestido rosa e brilhante. Costurei este vestido em 31/12, bebendo espumante e ouvindo música. Foi uma delícia. Meus desejos para 2020 eram que fosse um ano mais calmo (meus neurônios “fritaram” em 2019 sim, só que eu mal sabia o que viria em 2020, hahaha) e que eu vivesse um amor novo e verdadeiro. Estava pronta pra isso. Eu estava prestes a sair de um relacionamento que nunca se assumiu um relacionamento (aff), mas que estava sendo o maior período com alguém desde o divórcio. E eu já estava em paz com isso tudo. Queria (e ainda quero) algo de verdade. Isso eu sei que vai acontecer na hora certa.
Comprei os tecidos para este vestido no começo de dezembro, junto com a seda maravilhosa que usei para costurar um vestido para o meu aniversário de 40 anos (porque eu merecia ter esse ritual do meu auto-presente de volta e o cumpri lindamente). Logo menos devo mostrar esse vestido também, ficou maravilhoso!
Eu já não me considerava supersticiosa até dois anos atrás, quando revi todo o meu sistema de crenças. Na verdade, eu sigo não sendo supersticiosa. Não faço nada só por fazer ou porque “dá sorte”. Eu acredito que a nossa sorte é a gente que faz. Hoje em dia eu acredito muito que pequenos rituais feitos com propósito cumprem uma função e vestir rosa e brilhos na passagem do ano serviu para demonstrar para mim mesma o que eu (ainda) quero para 2020.
Um vestido de paetês
O molde escolhido é o Bailén Top and Dress da Pauline Alice, que eu já tinha feito em 2017 em veludo. As minhas medidas mudaram de lá pra cá e eu reduzi o molde em um tamanho e meio. O vestido é cortado no viés, o que me levou a pensar se deveria fazer isso pois o tecido da vez era uma malha com os paetês bordados sobre ela. Acabei decidindo por desencanar e costurar a malha como se fosse tecido plano: com o tecido no viés e também com as pences de busto, que depois foram refiladas para não ficarem armadas por causa dos paetês. Também levei em consideração como ficariam os brilhos dos paetês se ficassem retos ou na diagonal. Mudava um pouco e preferi deixar no viés mesmo, até para manter um bom caimento.
O vestido de veludo foi feito com costura francesa, como indicava o projeto, mas internamente ficou grosso por conta do volume do veludo. Como ele é larguinho, não chega a aparecer por fora. No paetê eu fiz costuras simples mesmo. Na coisa toda de fazer o vestido no mesmo dia de usar, rs, está sem um acabamento interno decente até hoje. Por ser malha, o tecido não desfia, mas os paetês acabam pinicando (casa de ferreiro, espeto de pau, eu sei). Em algum momento, voltarei para colocar um viés interno na peça ou mesmo um forro, prometo!
O viés que dá acabamento às cavas e também forma o decote e as alças foi feito com um crepe levinho e deixou o acabamento bem delicado, eu gostei!
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Frente”
Decote e alças fininhas
Detalhe do acabamento em viés
Não canso desse brilho metálico!
Costas
Looks dos Dias – Reveillón e Dia dos Namorados
Eu usei o vestido pela primeira vez na virada do ano, que passei na casa de uma amiga muito querida (beijo, Keiko!). Coloquei saltão, acessórios grandes e caprichei na maquiagem. Foi também o momento em que estreei o atual fundo cinza das fotos de look, na sala de TV.
A foto que postei no dia é uma das minhas preferidas na vida!
No último dia dos namorados, eu resolvi usar o mesmo vestido. As roupas especiais não precisam ficar guardadas no armário por não podermos sair com elas por enquanto. Nesses tempos de quarentena, vi pessoas usando paetês ou até roupas como vestidos de noiva em casa e achei legal também fazer isso por mim mesma. Eu me dei folga nesse dia, aproveitei para ajeitar a decoração da cozinha que eu mesma pintei em maio. Coloquei o vestido, me maquiei, coloquei acessórios, comi bem e curti o dia. Foi o primeiro 12 de junho em paz em alguns anos.
Vestido de paetê: Tecidos de malha com paetês e crepe da Mittus Tecidos; molde gratuito Bailén, da Pauline Alice.
Tênis: Nike
Pulseira: Luiza Dias 111 Colar de cobre e linha: comprado na Alemanha (2018).
Mais um motivo para fazer um vestido rosa para o Reveillón: eu acabava deixando os vestidos brancos encostados no armário. Hoje sei que é porque não me favorece tanto, já que branco não está na minha cartela (assim como preto e cores quentes também). Mesmo sendo um vestido de paetê, fiz com a intenção de continuar a usar com tênis, como fiz nesse dia e, por exemplo, uma jaqueta jeans por cima.
Sempre digo que datas comemorativas podem ser opressoras. O dia das mães foi o meu pior dia da quarentena por não poder ficar com a minha mãe. Contei um pouco sobre esse período aqui. O dia dos namorados em 2018 e 2019 foram bem pesados para mim, assim como o dia dos pais passou também a ser um dia bem melancólico. Então, me dar o dia de presente foi algo muito bom!
Uma nova cozinha
No final de abril eu estava faxinando a cozinha de casa, já à noite. Afastei as cadeiras para passar pano embaixo da mesa e fiquei ali perto esperando secar, já bem cansada. Observando o cômodo, vi que as cadeiras estavam com os estofados muito manchados e também já começando a rasgar. Foram 13 anos de casa cheia e as cadeiras estavam dando sinais de cansaço. Olhei bem pro azul turquesa das paredes e não me identifiquei mais com ele, achei escuro e frio demais. Não me animei mais com a decoração.
A cena da faxina que me fez pensar: “não gosto mais de como as coisas estão aqui”, rs
Mandei uma mensagem para o tapeceiro aqui do bairro, que já tinha refeito os dois sofás e as duas poltronas de casa para saber se ele estava trabalhando. Ele prontamente respondeu que sim e, no dia seguinte, já levou as cadeiras embora. Como eu não estou recebendo ninguém em casa, era um bom momento para ficar sem cadeiras por um tempinho, não iriam fazer falta.
Aproveitando que as cadeiras já tinham saído, comprei tinta, arrastei o buffet de louças para a sala e pintei a cozinha. Levei uma semana, hahahaha. Faz tempo que eu queria ter alguma parte da casa pintada de rosa mas ainda não tinha achado o tom ideal. Aí, vendo os Stories das pinturas na casa linda da Isadora Attab (beijo!), catei a dica da cor com ela e saí correndo pra encomendar a tinta sem nem testar antes, rs. Acabou que, escolhendo as fotos deste post, vi que a cor do vestido e da parede ornaram, hehehe. Um rosa bonito sem ser fofo demais.
Foi uma novela a pintura pois cobrir aquele azul deu trabalho. E o trabalho valeu a pena. Amei as cores novas. Agora a cozinha está mais clara, com as cadeiras renovadas numa cor mais escura. Eu fiquei tanto tempo lá pintando que eu depois enrolei um mês para definir a decoração. Praticamente tudo já estava na minha casa, foi só mudar de lugar mesmo. Os bordados estavam em uma parede que agora não tem praticamente mais nada (tenho novos planos para ela também). Organizei o buffet para ficar com as bebidas mais à mostra, assim como agora tenho plantinhas ali, finalmente!
(Clique em uma das fotos da galeria para ver em tela cheia!)
Leia sempre aproveitando alguma cadeira, rs
Amei como o rosa valorizou a cor da madeira dos móveis e da janela!
Luke tranquilão na cozinha nova.
O cantinho de lembranças de viagem com o tema de cozinha continua!
Tô tão apaixonada!
Tecidos escolhidos pra voltar a costurar, flores e a decoração nova!
Para terminar, quero fazer um caminho de mesa novo, seguindo um projeto que tenho vontade de fazer há anos e, nessa revisão do ateliê, vou separar os materiais para isso. Só que não quis esperar essa peça ser feita para mostrar nem quis esperar para celebrar a renovação, que tenho sentido tão necessária nesses tempos de quarentena. Assim como não quis esperar poder levar o vestido de paetês pra passear na rua para vestí-lo de novo.
Depois de compreender a euforia de 2017, vejo que hoje eu não me sinto realmente feliz. E tá tudo bem admitir isso também, sabe? Eu me sinto muito grata todos os dias por estar segura em minha casa e, primeiramente, por ter uma casa, saúde, trabalho e comida no prato. Também sou grata demais pela minha família, meus doguinhos e meus amigos. Mas não tenho me sentido realmente feliz. A vida como está hoje, longe das pessoas e sem poder andar tranquilamente por aí, não é o que eu quero para mim. Porém, esse retorno aos cuidados com a casa, com a comida, ficar o tempo todo com os meus bichinhos e os desafios do trabalho online me trazem alegrias diárias e eu não posso deixar de celebrá-las.
Vamos seguir com os cuidados para ter pequenas alegrias diárias!
Sou de São Paulo, publicitária de formação, professora de costura por paixão e escolhas da vida. Sou também várias outras coisas por convicção: feminista, mãe de cachorros, tatuada, amante de música, viciada em Grey's Anatomy, costureira, modelista, consultora de estilo e (também, ufa) autora deste blog.